Uma amostra de sangue, saliva ou um fio de cabelo podem revelar quem você é com uma análise do DNA, e apenas 0,5% do seu material genético é realmente único. Cenas de personagens analisando DNA em laboratório, comuns em séries de investigação criminal como CSI, encantaram o jovem de 23 anos Gabriel Nakanishi Fortes durante a infância e adolescência, impulsionando a sua decisão de se tornar cientista. Entre assistir pesquisadores na televisão e segurar a primeira pipeta, o caminho de Gabriel passou por um projeto de iniciação científica na Escola Superior do Instituto Butantan (ESIB) sobre biologia molecular do câncer – que foi um dos destaques da Iniciação Científica e Iniciação em Inovação Tecnológica em 2021.
Nascido em Cachoeira Paulista, interior de São Paulo, Gabriel está no quinto ano da graduação em Farmácia na Universidade de São Paulo e ingressou há um ano no Laboratório de Expressão Gênica em Eucariotos do Butantan, dirigido pelo pesquisador Sergio Verjovski Almeida. Orientado pela pós-doutoranda Maria Gabriela Berzoti Coelho, ele analisa a função de um RNA longo não codificador que está altamente expresso no câncer de próstata. Ao reduzirem a expressão do gene que codifica esse RNA em testes in vitro, os cientistas observaram que as células tumorais se proliferam menos.
“Os resultados iniciais têm mostrado que, ao retirar a expressão desse gene, as células do câncer se multiplicam menos do que as células controle que contêm o gene. Essa molécula poderia servir tanto como um biomarcador [para diagnosticar o câncer de próstata], como para ajudar no desenvolvimento de novos tratamentos no futuro”, aponta o estudante.
Para ele, uma das melhores partes de estar no Butantan e trabalhar em um laboratório é ter a oportunidade de ver acontecer na prática aquilo que ele aprende nas aulas – e, claro, a satisfação quando um experimento dá certo. Os desafios, no entanto, não são poucos. Os testes de proliferação que ele está conduzindo demoram uma semana para ficarem prontos e, nesse tempo, algo pode dar errado. “As células podem morrer ou podem ser contaminadas, e aí é necessário refazer todo o experimento. Os testes podem dar errado várias vezes. Mas quando chega ao fim e você vê que deu certo, vale muito a pena. É preciso ser persistente.”
Aprender para ensinar, ensinar para aprender
Quando criança, Gabriel tinha uma lousa que usava para estudar e “dar aulas” para si mesmo. “Eu sempre estudei falando em voz alta, como se estivesse explicando para alguém, em vez de só ler e anotar”, conta. Pensando em unir sua paixão pela biologia e pelo ensino, o sonho de Gabriel é ser professor e pesquisador de uma universidade, dividindo seu tempo entre a sala de aula e o seu próprio laboratório.
“O que eu acho mais legal é quando o pesquisador parte de uma ideia e isso vira um grande projeto: ‘vamos fazer um projeto assim, porque eu li em um artigo que esse gene tem a função A, então eu acho que podemos testar se acontece B’. Quando eu vejo um professor tendo várias ideias dessa forma, eu só penso: quero ser assim um dia.”
Oportunidade para todos
Atualmente, Gabriel recebe bolsa de iniciação científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Ele reforça que o investimento e a valorização da ciência são extremamente importantes para que outros jovens como ele possam desenvolver seus projetos e contribuir para o desenvolvimento do Brasil. “Acredito que é preciso investir principalmente em bolsas para os alunos, porque por mais que a pessoa ame ciência, ela não vai conseguir ficar no laboratório sem um auxílio, ou se o próprio laboratório não tiver verba para conduzir as pesquisas. Muitas vezes, tem ótimas ideias reunidas ali, mas é difícil concretizá-las sem recursos.”
Reportagem: Aline Tavares
Fotos: Comunicação Butantan